Arte: Annelie Solis |
O ecofeminismo é um movimento, teoria e filosofia, que teve origem no final da década de 1970, debatendo sobre a relação entre a dominação da natureza pelos seres humanos e a sujeição feminina aos homens, expressando a predominância de formas patriarcais na estruturação ocidental, que remete o papel da mulher apenas à reprodução social. Essa relação seria estabelecida porque, como discutem algumas autoras ecofeministas, tanto as mulheres quanto o meio ambiente são vistos pelo patriarcalismo como objetos de consumo e exploração (SILIPRANDI, 2006).
De modo geral, o pensamento ecofeminista possui os seguintes pressupostos (SILIPRANDI, 2000):
- Econômico, no qual se percebe que a mulher e a natureza são tidas como recursos ilimitados que proporcionam a acumulação do capital.
- Político, que discute sobre a identificação da a mulher com a natureza e o homem com a cultura, perpetuando a hierarquização dos segundos (homem e cultura) para legitimar a opressão da mulher e da natureza.
- Científico e tecnológico, que debate sobre não haver neutralidade quanto ao gênero no que se refere à atuação científica e tecnológica para o desenvolvimento econômico moderno, sendo o feminino excluído do campo do conhecimento científico.
E pode ser dividido em três tendências (ANGELIN, 2008):
- Ecofeminismo clássico: denuncia a naturalização da mulher como um dos mecanismos de legitimação do patriarcado e afirma que a obsessão masculina pelo poder tem levado o mundo às guerras e à destruição do planeta. Nesse contexto, a ética feminina de proteção dos seres vivos opor-se-ia à agressividade masculina, pois a mulher possuiria características igualitárias e maternais que a predispõem ao pacifismo e à conservação da natureza, enquanto homens seriam naturalmente predispostos à competição e à destruição.
- Ecofeminismo espiritualista do Terceiro Mundo: sob a influência dos princípios religiosos de Ghandi, da Teologia da Libertação e da cosmologia hindu, afirma que o desenvolvimento da sociedade gera um processo de violência contra o feminino e o meio ambiente, visto que tal desenvolvimento teria suas raízes nas concepções patriarcais de dominação e centralização do poder. Caracteriza-se pela postura crítica contra a dominação do "princípio masculino" ao "princípio feminino", pela luta antirracista, antielitista e antiantropocêntrica.
- Ecofeminismo construtivista: divergindo das tendências anteriores, defende que a relação da maioria das mulheres com a natureza não está associada a características próprias do sexo feminino, mas é originária de suas responsabilidades de gênero na economia familiar, criadas através da divisão social do trabalho, da distribuição do poder e da propriedade. Sua consciência ecológica decorreria, portanto, da interação compulsória com o meio ambiente, independentemente das características afetivas ou cognitivas próprias de seu sexo. Desse modo, é defendida a necessidade de assumir novas práticas de relações de gênero e com a natureza.
"As mulheres pobres do Terceiro Mundo, que vivem em uma economia de subsistência, são as maiores vítimas da crise ambiental em seus países, pois são as primeiras a sentirem o reflexo da diminuição da qualidade de vida causado pela poluição ou escassez dos recursos naturais, os quais são explorados indiscriminadamente para satisfazer as necessidades do Primeiro Mundo. Ao contrário do que muitos ecologistas pensam, não é possível ecologizar o capitalismo, assim como também não é possível acabar com a dominação e exploração do gênero feminino sem superar as estruturas capitalistas patriarcais que a mantêm. Desse modo, tanto a solução da crise ambiental quanto a da opressão das mulheres não devem ser tratados como problemas isolados" (ANGELIN, 2008, p. 3).
Algumas autoras apontam para inconsistências teóricas nas duas primeiras tendências, destacando um possível risco de se afirmar a utilização de estereótipos femininos na sociedade. Segundo essas autoras, a legitimação de tais estereótipos (da mulher como cuidadora, representante de um princípio feminino que a aproximaria da natureza devido à maternidade, fertilidade e criação) fortaleceriam as crenças patriarcalistas destrutivas, em vez de refutá-las (PLUMWOOD, 1993 apud SILIPRANDI, 2006).
De toda forma, não se pode deixar de considerar que a afirmação de uma proximidade natural da mulher ao meio ambiente remonta crenças ancestrais sobre os aspectos considerados por muitas culturas como femininos: o ciclo menstrual, a gravidez, as atividades laborais e algumas características psicoemocionais. Quer sejam naturais ou impostos pela cultura, desde muito tempo esses aspectos são compartilhados por mulheres, que aprenderam a lidar com eles de formas características, o que tem sido resgatado com o movimento ecofeminista - ainda que, hodiernamente, os termos "mulher" e "feminino" apresentem outros significados passíveis de debate.
O ecofeminismo possibilita o renascimento do Sagrado Feminino, trazendo questões como consciência ambiental, respeito aos ciclos da natureza e do feminino e autoconhecimento. É um caminho de redescobrimento do feminino, empoderando a mulher e resgatando crenças milenares sobre a conexão do Ser com o meio ambiente.
Referências:
ANGELIN, R. Gênero e meio ambiente: a atualidade do ecofeminismo. 2008.
Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/058/58angelin.htm. Acesso em: 17 de
maio de 2016.
SILIPRANDI, E. Ecofeminismo: contribuições e limites para a abordagem de políticas
ambientais. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, v.1, n.1, p.61-71, jan./mar.
2000.
SILIPRANDI, E. Ecofeminismos: mulher, natureza e outros tipo de opressão. Encontro
Fazendo Gênero 7 – Simpósio Temático n.31. UFSC - Florianópolis, 2006.
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